AMOR DESPUDORADO

Eu monto no cavalo vermelho

feito de gritos e manivelas,

eu agarro raios e os olhares dos anjos

e só danço para saltar do peito a dor

A única serenidade é entender o outro

eu abdico de qualquer controle sobre o amor

e se lambo sorvetes das lágrimas

é porque os anões sopram cornetas

anunciando a morte dos príncipes

Eu retiro da rosa dragões dos sonhos

que já não me servem, o Amor me observa

pelos óculos escuros que não inibem

o Poente de atirar o sexo escada abaixo

para que os cavalos brancos desabrochem carros-abutres

Do meu sexo vociferante monstros alados

desmoralizam o amor livre

pois da alma subterrânea

ratos e baratas guardam os céus

Eu espero a mulher e de frente ao abismo

recolho pássaros enfileirados nos dedos

como anéis de um delírio que mais

do que a solidão pontiaguda, é o amor

despudorado e único que me cavalança

preenchendo de sexo a violação da rosa

na doçura úmida da mulher