OUTRA HISTÓRIA
José António Gonçalves
O arbusto era a minha sombra
como um biombo de escuridão
a proteger-me do anonimato.
Dali contemplava-te
nua
deitada sobre a relva
na salvaguarda dos salgueiros
como um animal selvagem
adormecido
entre as plantas do mato.
Para mim não existias de
verdade
e eras apenas uma deusa
a encantar-me
com a sua imagem
iluminando-me as distâncias
no percurso da idade
como o vinho a envelhecer
em suaves fragrâncias
e no ponto para se beber.
Ainda hoje retenho a tua pele
branca
quase azul de frio
aproveitando todo o sol possível
num recanto qualquer
da memória.
Lembro-me do meu olhar
aceso de paixão derramado
sobre o teu corpo
e de deixar-me ir na tua visão
esplendorosa e impassível
mas isso já é
(para os sentidos)
outra história.
José António Gonçalves
(inédito.12.02.05)
JAG