Os seus olhos
Os seus olhos
Vida
Corrente
Meus braços
Seus elos
Meus pelos
Meus medos
Correntes
Os dentes
Cerrados
Rangentes
Mas sentem
Não mentem
Mas prendem
Meus braços
Teus braços
Enlaçam
Se unem
E secam
Se cercam
Seus olhos
Me cercam
Como sóis
E se espelham
Nos meus medos
Os seus olhos
Que não secam
Sempre choram
Se derretem
Me prendendo
No seu visgo
E me cegam
No seu brilho
Os seus olhos
Hipnóticos
Me transportam
Como pórticos
Neles perco
O raciocínio
E vou indo
Nos seus olhos
Que sustentam
Meus desejos
Neles vejo
A mim mesmo
Meu reflexo
E perplexo
Deles fujo
Perseguindo
Um segredo
Os seus olhos
pacificam
neles ficam
Meus sorrisos
quando choram
se desmancham
meus momentos
outro eu
que somente
eles vêem
Sem você
não existem
Os seus olhos
Não me vêem
Me constroem
Me projetam
Do vazio
Para as cores
Infinitas
Com que pintam
Nosso amor
Os seus olhos
São espelhos
Que perpassam
A matéria
Revelando
As mentiras
Que contenho
Sob a carne
No meu cerne
Lá se perdem
Em degredo
Meus segredos
E só eles
Nos meus cavam
Os meus gritos
Que se calam
Nas palavras
Que nas bocas
Nunca dizem
Sentimentos
Só seus olhos
Me resgatam
Das cadeias
Que me cercam
Me assustando
Me libertam
Compreendendo
Sem que diga
Aceitando
As recusas
Que reclusas
Se me negam
Mas existem
Me contendo
Em você, pois
Me liberto
Sobrevôo
Sobre os planos
Que desenho
Nos meus sonhos
Que só conto
P´ra você
Pois seus olhos
Não me julgam
Me atravessam
E enxergam
Minhas mãos
Estendidas
Implorando
Sua ajuda
P´ra existir
Os seus olhos
São dois anjos
Me puxando
Do inferno
Tão sensíveis
Pois que choram
Ante o vento
Que os agride
Nossos olhos
Se encontram
Nos tragando
Deste mundo
Entregando
Nossos corpos
Ao braseiro
Que os consome
Às delícias
Inocentes
Que animam
Meu espírito
Transpirando
Minha alma
Pela pele
Desgastada
Pelas dores
Que a mancharam
Mas nos olhos
Permanece
A pureza
Que nasceu
Com o tempo
Pois o mal
Foi lavado
Com as lágrimas
Que de tantas
Empoçaram
Nos seus olhos
Elas fluem
Nunca secam
Nossas almas
Pois navegam
Entre os rios
Que se formam
Na emoção
Que vivemos
Em segredo
Protegidos
Do horror
Que circunda
Toda a alma
Os seus olhos
Sem mácula
São a mágica
Que me tira
Do momento
E me mostra
O eterno
Intocado
Monolítico
Sentimento
E me afasta
Do fluxo
Do tempo
Que carrega
Tudo e todos
São seus olhos
Que me prendem
No profundo
Solitário
existir
Pois aprendo
Algo novo
E renasço
Nos seus braços
Inocente
Verdadeiro
Unindo
Os pedaços
Que no mundo
Se desmembram
A membrana
Dos seus olhos
De tão frágil
Quase cega
Da desgraça
Que reflete
Mas mantém-se
Tão brilhante
Como a alma
Inda pura
Sob a escura
E espessa
Camada
Os seus olhos
Me resgatam
Do escuro
Com seu brilho
Refletindo
Todo o lume
Que contido
Permanece
Intocado
No meu íntimo
Seus olhos
Com seu brilho
Me resgatam
Do abismo
Me mostrando
Coloridos
Horizontes
Ondulantes
Palpitantes
Sentimentos
Nunca antes
Revelados
Os seus olhos
Fundos lagos
Cujas águas
Reluzentes
São as lágrimas
Recolhidas
Das tristezas
Já sofridas
Esmagadas
Sob as pálpebras
Quais janelas
Que fechadas
Lá escondem
Nossa essência
Meus defeitos
Aos seus olhos
Se acomodam
No meu ser
Ganham forma
Importância
Pois sustentam
Meus méritos
N´outra ponta
Só seus olhos
Me enxergam
Como sou
Sem disfarce
E só neles
Me contento
Com quem sou
Seus olhos
São veículos
Transportando
O seu pulso
Nos meus nervos
Atraindo
Como um imã
Os meus olhos
Penetrando
Qual colírio
Os curando
Ou fechando
As feridas
Que o tempo
Não cicatriza
Mesmo de costas
Mesmo distante
Quando os fecho
Os meus olhos
Só enxergam
Os seus
E aí se refugiam
Como um porto
Para a nave
Já cansada
Da viagem
Que não cessa
(Djalma Silveira)