Poema 0607 - Falem de amor
Revolta-me contra o vento que remexe a areia da praia,
arrasto meus pés fazendo desenhos complexos,
não sei das promessas, como não sei do mar,
o poder é ignorado, como o amor não correspondido.
Fecho o céu azul ou o mar é azul como amor,
as cores têm alegria ou tristeza, algumas ao menos,
não quero nada eterno até que a solidão vá do peito,
assim como barcos de papel que correm o riacho.
Perdi minha capacidade de conquistar o mar,
as ondas não obedecem aos meus olhos, o amor?
Estou adolescente em minhas idéias de apaixonado.
Louco? Contesto as palavras que não são de carinho.
Separei a garrafa mais antiga da adega do tempo,
tenho a sede juvenil de amor por aquela mulher,
não deixo que escape aos meus olhos de amante,
um suposto caso de loucura poética ou paixão mesmo.
Joguei fora meu relógio, calou os sons da rua,
tento assim ouvir os gritos de desejo do seu corpo,
nada é casual, as mãos ficam suadas a espera das outras,
a vida vai devagar dos olhos quando a noite sente a solidão.
Até que todos os humanos outra vez falem de amor,
assumo um compromisso formal de amante,
amarei os dias, as noites, as luas, a paz que me trouxe,
transitarei impunemente pelos corações fazendo-os loucos.
Alço vôo, meus braços são asas que direcionam nossos corpos,
abre-se o céu quando deitamos em nossa cama de nuvens,
guardei os sonhos no bolso de trás da roupa jogada ao chão,
em mim um mar de amor, sem areias, sem lágrimas vãs.
02/03/2006