Amor Perdido
Procuro voce
na memória do tempo,
para ver se eu encontro
aquele que amei um dia,
com muito êxtase e paixão,
com tanta sofreguidão.
Procuro voce
na memória das horas,
passadas cheias e vazias
quando de mim te apartavas,
numa louca espera,
que fazia de mim uma fera.
Procuro voce
na memória dos segundos,
em que juntos estivemos.
Procuro no teu olhar,
uma nesga de dúvida,
um não sei quê de ternura,
que nos leve de novo à aventura.
Te procuro ainda
no bem maior que se tem,
na construção firme e forte
resguardada a sete chaves:
nossos filhos amados,
nosso neto adorado,
que nele toda a alegria
é uma terna companhia.
Sei que somos diferentes,
voce pensamento, concretude,
eu sentimento, abstração,
mas se já fomos amantes,
porque não voltar a ser como antes?
Os dias passam céleres
E pouca coisa restou
do muito que se perdeu...
foi o amor que bateu asas,
desencantado, morreu.
E agora vago sózinha
insone na madrugada,
a espera que as horas vençam
minha esperança abandonada.
Nutrida de um sentimento
de que tudo se harmonize outra vez,
antes da hora da partida,
transformada em hora da chegada, num doce reencontro na madrugada.
No renascimento do amor,
com mais força e carinho,
renascimento dos sonhos,
deixados pelo caminho,
renascimento da vida
em mil venturas, acarinho.
Nosso redespertar amoroso encontra-se envolto,
em brumas escuras e sombrias,
tal qual um mar insano e revolto,
nas marés das horas tristes e vazias.
Ainda resta um consolo,
que desmanchadas as armaduras
retiradas as amarras do tempo,
ressurgindo qual fênix encantada,
a paixão ressurja vigorosa e desvelada.
Mas olho voce dormindo,
com tanta calma e placidez,
e me pergunto como pode,
ter num coração tanta aridez?
Como se apenas eu sofresse tanto
e amargasse meu pranto,
pois voce siquer se importa,
se me sinto como morta.
E assim parto na busca
de um maior entendimento,
percebendo no cotidiano certos atalhos
que se parecem mais à tessitura de uma urdida colcha de retalhos, de trapos tornados farrapos, por falta de maiores tratos.
Portanto despida
de qualquer orgulho ou pretensão,
percebendo que o valor da
relação conjugal cabe na palma da mão,
vou sopesando a vida,
me defendendo das palavras alvoroçadas de nossas crias, revoltadas com o estado das coisas,
indignadas com as metas traçadas, em momento de verdades que descansavam à sombra e que colocadas na luz, foram duplamente e amigavelmente aceitas.
E conclui então que muitos dos nossos sonhos,
são apenas borboletas que
voando por entre as flores,
num doce beijo de amor,
não se fixam em nenhuma,
para a suma liberdade de beijarem todas,
com muito ardor.
E de sonhos em sonhos,
assim como de flor em flor,
viceja a vida risonha,
sempre na busca do amor.
Santos, SP - 04/12/05