Sinto um cansaço de besta-fera...
enjaulada no zoológico da estupidez.
Capturado pelas melenas da mentira
minha poesia ruge
insana e infeliz.
Não quero falar de amor
esta criatura caprichosa
inconsequente meretriz.
Vou arriscar o passo perigo
e escapar do abismo
por um triz.
Meu sorriso está congelado
negativos Fahreinhets
ao amigo que me indaga
preciso
mentir o sonho que deixei para trás.
Não me peça para desenhar o amor
pelo pincel incerto desta aquarela
a vida que me espera é montanha russa
doença
gastrite, insônia, febre amarela.
Tenho todos os achaques dos néscios
mas não vou pajear ilusões desbotadas
Não quero falar de amor
ao menos, não antes da chegada
ao porto solidão que me aguarda.
E uma vez lá vou ficar quieto
pois quem fala demais padece
da crônica nudez dos insensatos.
O amor é traiçoeiro afeto
que nos engana e oferece
o nada mais estúpido e abjeto.
OBS: Texto escrito em 1986