RENÚNCIA
Estou me desfazendo de tudo que a vida me fez e me redesenhando;
Num outro mundo me trancafiando, deixando ao leu minhas conquistas;
Gritando terra à vista sobre águas opostas a tudo que vinha navegando;
Sorrindo mesmo que sangrando, mantendo o jogo, mas trocando as fichas!
Agora meu trigo virou joio e a noite galopa num corcel em forma de manhã;
Salvo meu pecado no gosto da maçã, deixo de ser tudo aquilo que eu seria;
Estendo um tapete de lágrimas para o desfile da alegria, iludindo meu afã;
Passo a crer na paixão como um leviatã, e que antes de ti minha vida morria!
Adeus ação racional e que não mais me assedie qualquer ponderação;
Ao controle da loucura cedo minha mão, ao preço do fascínio me vendo;
Em vez de guerrear agora me rendo, abdico das fartas mesas e te contemplo meu pão;
Digo sim ao não, falando ao meu silêncio, tudo que não era agora sendo!
Sigo mudo, esquecido de ver e desnudo perante o realismo;
Voando nas asas do lirismo, renunciando a compostura do pé no chão;
Comprando com prazeres meus medos em leilão, te doando meu mar de romantismo;
Ignorando a dúvida que já nem cismo, escravizando minha sorte em teu coração!