O coração bem vê
Não sou o teu alimento, ou o teu ar,
algo que precises para sobreviver
e um dia, acaso eu me ausentar
ainda muito bem irás viver.
E jamais seria alguma paisagem
que tu olhes e então no momento reflita
pensamentos que a desvendassem,
nem com a tua especulação mais erudita.
Não sou ainda alguma escultura
que ao tocares e analisar minuciosamente
te cativaria o mistério da formosura
e a necessitasse vê-la incessantemente.
Nem seria alguma música obsessiva
que não te ausentasse dos ouvidos
e somente da tua atenção então viva
portanto dela escutasses os alaridos.
Não sou decifrável aos teus olhos, nem aos teus ouvidos,
nem mesmo ao teu tato, ou quaisquer de teus sentidos!
Pois não me perceberiam tal como sou e eu te seria dispensável
só vendo-me com o coração daria-te conta do meu valor imensurável.