CORAÇÃO COVARDE
Andei pelas sarjetas das saudades e tentei matar a fome de teus abraços;
Sem anestesia arranquei os estilhaços, sem pudor calei o meu desejo;
Afugentei as danças de meu festejo, imobilizei os ímpetos de meus passos;
Arranquei todas as uvas dos cachos, ceguei todos os sonhos onde te vejo!
Eu amputei nossos tentáculos e disse adeus aos nossos vínculos antigos;
Declarei guerra aos nossos olhares amigos, me induzi a te odiar;
Matei-te em mim para em ti me assassinar, me acovardei recorrendo aos riscos;
Enxuguei-me nesses chuviscos, pra não mais te chover em meu chorar!
Fiz do meu coração covarde, minha bandeira de heroísmo;
Por não poder viver desse cinismo, por não me suportar sem teu suporte;
Mesmo que o mundo me importe, sem teus lábios ele é abismo;
E que me acuse o pragmatismo, desde que me condene essa sorte!
Porque o fim de tudo sempre será um recomeço que a ti recorre;
E meu ser que morre, não cansa de nascer a cada confissão de amor;
Se for possível compreender a minha dor, ampare tua mão a lágrima que me escorre;
De ti meu coração corre, mas quando me vejo é contigo que sempre estou!