Tens que partir
Tens que partir, antes que a
minha alma feneça, ou
antes que eu me perca
uma vez mais dentro de ti.
Mesmo que essa dor que
me reparte em duas – antes
e depois de ti – permaneça
sangrando a alma e
vertendo de lágrimas
vermelhas o chão onde
pisas, tens que partir.
É preciso que não olhes
para trás, ao contrário de
Eurídice ao perder
Orfeu, porque o ver,
nesse segundo, não irá
representar o reflexo
do Paraíso, ou mesmo
o resquício da felicidade,
pois terás que, cedo
ou tarde, partir.
Saberei fechar a porta
como fazem as mulheres
que são rejeitadas e no lamento
da dor apenas confrangem
em silêncio a alma,
recolhidas no pranto do amor.
E assim meu pranto irá
perfazer seu
caminho, na certeza de
saber que mesmo te
amando tens que partir.