Poema 0598 - O pecador

Não tirem as palavras da minha boca,

deixe que queimem meus desejos nas fogueiras,

na garganta ainda resta um grito de dor

que sufoca os últimos carinhos que te dei.

Sou sim, pecador do seu corpo,

roubei uma alma que não me pertencia,

fui profano, fui fiel, fui apenas amante,

até que em uma noite me fez desencantar.

Meus gritos voltam a não fazer eco,

as madrugadas estão vazias, do sonho não se sabe,

quero a cúmplice dos meus carinhos,

a vida sorrindo quando explodimos em gozo.

Voltarei a pecar, mil vezes, milhares até,

preciso saciar a sede dos meus desejos,

quero a atenção voltada ao meu amor,

antes de qualquer prazer, a vida, sua e minha.

Carrego ainda a paixão queimando no peito,

as marcas que sua boca deixou na minha pele,

as palavras, as promessas, algumas não cumpridas,

deixem-me pensar, enquanto me taxam de pecador.

Quero ser atendido em meus desejos mais simples,

assim que me dou em dobro, me dôo a você,

até que os espíritos voltem aos corpos verdadeiros

ou até que o nosso amor consuma toda a carne.

Posso mais a noite voltar, mas não a implorar,

quero a música dos nossos silêncios,

os sentimentos somados a atenção,

as imagens tatuadas no fluorescente na lua do quarto.

Não desejo mais olhar o passado, não quero voltar no tempo,

sequei algumas poucas lágrimas, derrotei antigas magoas,

enterrei em uma vala secreta meus últimos pecados,

não me fiz perfeito, continuo homem, amante e impuro.

Deixe meu corpo ou ame-o, atenda seus pedidos,

ainda que pecados, atenda-o, purifique minha alma impura,

quero sonhos que vão além da plenitude de todos os amores,

a pureza do sim, a ternura das mãos em meu rosto suado de fazer amor.

21/02/2006

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 21/02/2006
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