Intruso
Vento estranho, esse que passou.
Doando-me num abraço
Um hálito de terra úmida.
Veio das bandas do norte
Despertando velhas saudades!
Encantou as calandivas
adormecidas à janela,
Como, se, ventasse pra elas
Percorreu meu quarto inteiro
Atrevido e presunçoso
Abraçou-me sem dizer nada!
Despiu meu travesseiro
Entornou todo o tinteiro
E fez um céu de primavera
Sobre a minha escrivaninha.
Lamentou me ver sozinha
Mas, não ousou dizer nada!
Levitou as folhas antigas, amarelas
Dos poemas de Florbela
Intruso, apagou a vela...
Fiquei aflita, irritada...
Ele então, partiu sem dizer nada!
(Marisa Rosa Cabral)