Vandalo!

Amo-te ainda e agora,
que me lanças palavras pesadas feito torpedos...
-Com o amor que pode ser seu!
Lembro que não me querias em sua sala,
querias a mim em teu quarto e em teu leito!
Antes que meus lábios beijassem teus lábios,
ou que sugassem as pontas rosadas de teu seio,
deixaram escapar palavras de recato,
palavras que não encotraram abrigo,
cuja acolhida foi muito mais timida
do que os nossos arroubos de desejos!
Não consegui deixar estar enjaulados, meus instintos,
dentro do clausto, silêncioso de meu peito!
Adentrei teu universo, rompendo espaços!
Mas nada conseguiria, se não fossem teus braços...
Tuas mãos me ataram a teu corpo,
teus abraços a teus abraços...
Não fugi de teus lábios, sei bem;
comi teus beijos com meus beijos,
mas foi com a tua boca que comias os meus lábios...
E de bocas coladas,
de beijos molhados, em orelhas, em pescoços,
que fomos nos entregando, juntos... Atados...
E foi de naco em naco,
que comemos pedaço por pedaço, o todo de nossos sexos!
Como podes acreditar que seja insensivel,
indiferente ao que sentes,
se ontem estive a ti tão rente,
tão dentro de teu corpo,
sentindo-te tão quente,
com minha faca a cortar-te a carne,
com meu sexo açoitando-te como um ariete,
com minha gana adentrando-te freneticamente,
e acabando-se em ti, dentro de tua vulva ardente?
Como sou cego?
Se vi a tua nudez!
A interior e a aparente.
Como ser vandalo, nesta seara sua,
se foste tu que me abriste as postas,
e que nem me quis em sua sala?
Carregarei comigo a lembrança fortemente,
dentro de mim arraigada!
A responsabilidade de tê-la feito minha,
mas não a culpa!
Esta se existe é de nos dois, nossa!
Cala-me-ei agora...
Para que alêm de vandalo, fantasma,cego,fingidor...
eu não me transforme em um canalha!
-Como tantos homens nesta esfera,
que se apropriam do que não é seu e vão embora!