O DESESPERO
Vejo vendavais e corto canaviais,
desafio os funestos, deixo restos;
passo a madrugada, procuro a jangada,
tenho pressa, por isso vou depressa;
enfrento desafios, tenho calafrios,
sou apagado, me pego cansado;
o cansaço desanima, não tenho rima,
acumula o cansaço, tenho inchaço;
pelo arremedo, sou tolhido pelo medo,
então manifesto o meu protesto;
sou livre por um triz e preso pela raiz,
adivinho o momento, destampo o pensamento,
quero restabelecer-me, pressinto perder-me;
como se quisesse tudo que se propusesse,
mas tenho a fadiga e tudo que se diga,
pode presenciar-me e depois me calar;
desejo a artimanha, falta-me amanha,
violento-me a carne, reabilito o charme;
e de onde estou agora diviso a aurora,
como se vislumbrasse o vento que soprasse.
2.003