A ANÔNIMA APAIXONADA

Quem é aquele rosto solitário que se ilumina ao pensar em mim?

Que fica carmesim quando o ciúme lhe morde os lábios?

E me relembra ao pé dos rádios e me cultiva em seu jardim?

Diz pra mim: quem há de ser essa que me inclui nos seus presságios?

Que é a dona desse silêncio sofrido e vilipendiado?

Que seus suspiros me têm dado e me visita diariamente?

Que me constrói platonicamente como seu ódio mais amado?

Quem é essa que me tem dado o reino de sua mente?

Ela me quer além do que me dou e não divide o meu carinho;

Anseia-me pra seu ninho, me abraça quando afaga o travesseiro;

Nos sonhos dela lhe sou inteiro, me fantasia um possível homem sozinho;

Eu lhe firo qual espinho, mas ela se faz flor por todo meu paradeiro!

Ela condena quem me quer e a suposta concorrência lhe apavora;

Por minha letra se devora, queria ao menos minha voz;

Ainda que lhe pareça atroz, entende que o destino não lhe ignora;

Sei que sem mim ela chora, mas quem será essa a me ter com suas lágrimas a sós?

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 20/08/2008
Código do texto: T1137217
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