A ANÔNIMA APAIXONADA
Quem é aquele rosto solitário que se ilumina ao pensar em mim?
Que fica carmesim quando o ciúme lhe morde os lábios?
E me relembra ao pé dos rádios e me cultiva em seu jardim?
Diz pra mim: quem há de ser essa que me inclui nos seus presságios?
Que é a dona desse silêncio sofrido e vilipendiado?
Que seus suspiros me têm dado e me visita diariamente?
Que me constrói platonicamente como seu ódio mais amado?
Quem é essa que me tem dado o reino de sua mente?
Ela me quer além do que me dou e não divide o meu carinho;
Anseia-me pra seu ninho, me abraça quando afaga o travesseiro;
Nos sonhos dela lhe sou inteiro, me fantasia um possível homem sozinho;
Eu lhe firo qual espinho, mas ela se faz flor por todo meu paradeiro!
Ela condena quem me quer e a suposta concorrência lhe apavora;
Por minha letra se devora, queria ao menos minha voz;
Ainda que lhe pareça atroz, entende que o destino não lhe ignora;
Sei que sem mim ela chora, mas quem será essa a me ter com suas lágrimas a sós?