EVIDÊNCIA

Está escuro. Procuro pela casa toda.

A lâmpada não acende: não adianta tentar.

Vai alta a lua... (– Ternura nesta noite...)

A casa esta cheia de móveis, e eu, vazia.

Esbarro em móveis que saíram do lugar

E, de repente, mesmo estando eu sozinha,

O piano começa a tocar... (– Doces lembranças!...)

Ouço uma voz:

Vem longe... e se avizinha,

E num suspiro parece pronunciar

Meu nome numa voz que é conhecida...

– Mas é apenas meu sonho... não é teu suspirar!

Bate-me o vento uivante aqui do sul,

É alta noite, faz frio, estou a tremer...

Está escuro.

- Eu quero um céu azul!!...

Mas não tenho mais nada a perder!...

Sou parte de um Todo Universal:

Posso ser rocha, mar, montanha...

Posso ser flor ou ser brisa constante,

Posso ser alada ou rastejar...

Posso ser carvão que vira diamante...

É evidente: hoje me vês como um carvão disforme...

Mas um dia, daqui a muito tempo,

Poderás ver em mim um brilho estranho

Fulgurante, capaz de iluminar

A noite mais escura, sem estrelas...

Então verás que a luz de tua vela

Que acompanha teus passos se apagou,

Pois ela não trouxe luz ao teu caminho,

Mas de todo a roubou...

E minha lágrima, cintilando em tristeza,

Ainda, um dia, muito longe há de brilhar...

Mas mui de longe, pois sou agora pedra dura...

– Eu fui carvão macio que não soubeste segurar...

Fiz-me diamante, pedra inacessível,

Para aqueles que não o sabem enxergar...

Ou não sabem, nem ao menos valorar,

O tesouro, enquanto acessível

E ao alcance da mão de que o buscar!

Mas, se firmares teu olhar dentro da luz,

E dentro dela, o teu reflexo vislumbrar,

Não lamenta se não puderes me tocar...

Pois, dentro em mim, tu sempre hás de brilhar!...

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ESPERANÇA
Enviado por ESPERANÇA em 19/08/2008
Reeditado em 19/08/2008
Código do texto: T1136630
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