O TEMPO DOS AMANTES

O Tempo revoa, meus instantes morrem

A juventuda passa nas balsas da tarde,

E um velho acalanto em meu peito borda

Tristezas de outono, onde a primavera arde.

Navega, oh! balsa dos meus anos,

Vai pelas sendas do tempo sentida,

E busca nas cismas um lago de aromas,

E busca nos lábios um lago de vida.

Por quê foges, oh! tempo de alvorada?

Quando a hora e a luz se fazem mais risonhas!

Por quê partes assim em debandada

Tardes de amor, onde tristeza, sonhas?

A manhã dos meus anos é formosa e cara,

O olhar canta uma juventude em cada fronte

Quando vê passarem, lírios do infinito

As moças que em si resumem flórido horizonte.

A ternura dos meus lábios é só arminhos,

O frescor dos meus gestos é só louros,

Deixa eu coroar a tua fronte com meus beijos

E vestir o dia de teus cabelos douros.

Mas tudo passa... teus dias de menina

São uma tarde que fez-se moça

Ao murmur dos teus carinhos nesta boca

Nenhum dia falecido já remoça.

O tempo, esse falcão ousado

Rouba-nos tudo, juventude! amor! anelos!

Descerra sobre mim o cortinado

Da tenda oriental dos teus cabelos!

Que o tempo passe mas não custe a vida,

Que o dia morra mas não reine a treva,

Quero ficar contigo entre suspiros

Antes que os lírios morram porque neva.