Festa
De vez em quando ouço alguém tocando saxofone
ao lado de minha janela e o pensamento
desliza suave entre a agonia e o vento.
A música, então, faz festa na alma
com acordes desconhecidos trazidos
pelo mesmo vento que toca as
cortinas da janela e recria no
espaço pequeno da casa um romantismo
abusado e sempre bem-vindo.
E meu espírito se veste galantemente para
receber o saxofonista da rua
que nesta noite tocará apenas e
tão somente para mim.
No repertório, músicas de amor.
De um amor que há muito abandonou
o peito e inda se faz presente
como marca indelével da dor de um
outro velho amor que ficou no passado.
Mas hoje é dia de festa em minha alma...
Nada de tristezas ou lembranças doloridas.
Nessa noite sem estrelas e luar, finjo
que sou a poesia e você,
meu verso de outrora, o amor
que convidei para a festa
que acontece somente na memória.