O sertão que há em mim
O sertão que há em mim brotou do solo
agreste, quando de tua partida.
Foi nascendo com as cores ocres
da angústia trazida pela
ferida ainda não cicatrizada
que sangra sempre que
você me vem à memória.
Não há mais as aves de arribação
que migraram para outras
regiões dentro de mim, repartida
em duas pela dor da separação.
Esse sertão inóspito é acalentado
pelo canto da ave solitária que
vaga na imensidão da alma
e, cansada, se aquieta no
recôndito do peito, onde o
silêncio tange melodias de
funerais e choro de carpideiras.
É o sertão da seca que
estrangula a garganta e tenta
reter um grito de desespero na
certeza do amor que não
mais volta, pois perdido foi
na passagem do tempo.
O sertão que há em mim vem
da dor curtida e dilacerada
que fragmenta toda a minha
alma inefavelmente tocada por você.