Enquanto você partia
Enquanto você partia, recolhi os destroços da
alma e refugiei-me no esquecimento
da dor que impiedosamente
me dilacerava.
Fechei a porta da casa agora vazia
e todas as janelas por onde o
sentimento pudesse simplesmente
escoar através dos
olhos feridos.
Sangrei profundamente por dias
a fio e ainda hoje tua
lembrança me dói como se
você sempre voltasse a
revirar as cinzas ou
mesmo reabrir a velha ferida.
Desacreditei-me de uma forma
tão brutal que pouco a pouco
transformei-me em um mero
rascunho, na imagem do fantasma que
habita castelos antigos ou
passagens obscuras de um
limbo onde o amor se perdeu.
Ainda é a dor antiga que alimenta
minha poesia feito o sangue que
corre insone pelo meu corpo,
orvalhando minhas veias.
Sepultei as vestes brancas de
uma inocência perdida,
passando a usar trajes negros
como a noite sem lua e estrelas
que se veste de melancolia sempre
que lembro de mim
enquanto você partia.