Ruínas e silêncio
Ruíram-se dentro de mim os ecos,
rumores de dias de amor intenso,
festivo e vívido como o bater doce
de asas de borboletas na primavera.
O amor, como construção de
pretensão sólida de um peito
sequioso, caiu feito um castelo
de areia que a água salgada
devora em um único beijo.
À destruição seguiu-se o conhecido
silêncio que habita almas em
conflito pela perda do amor que
já não é o que um dia se
propôs a ser nas palavras ditas,
e hoje esquecidas,
à luz de olhos apaixonados.
O coração, este já não bate na
sincronia do peito, e no silêncio
da dor ouço apenas o sussurro
de um lamento ao toque
do triste alaúde que
docemente substituiu a
flauta de Orfeu.
Desci às ruínas do inferno.
Estou à procura do silêncio do céu.
A alma não deseja renascer das
cinzas como a fênix, pois o
corpo procura repouso no
silêncio da lápide que,
adormecida, guarda minha
última morada desde tua
dolorida partida.