Ruínas e silêncio

Ruíram-se dentro de mim os ecos,

rumores de dias de amor intenso,

festivo e vívido como o bater doce

de asas de borboletas na primavera.

O amor, como construção de

pretensão sólida de um peito

sequioso, caiu feito um castelo

de areia que a água salgada

devora em um único beijo.

À destruição seguiu-se o conhecido

silêncio que habita almas em

conflito pela perda do amor que

já não é o que um dia se

propôs a ser nas palavras ditas,

e hoje esquecidas,

à luz de olhos apaixonados.

O coração, este já não bate na

sincronia do peito, e no silêncio

da dor ouço apenas o sussurro

de um lamento ao toque

do triste alaúde que

docemente substituiu a

flauta de Orfeu.

Desci às ruínas do inferno.

Estou à procura do silêncio do céu.

A alma não deseja renascer das

cinzas como a fênix, pois o

corpo procura repouso no

silêncio da lápide que,

adormecida, guarda minha

última morada desde tua

dolorida partida.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 17/08/2008
Código do texto: T1132833
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