Úmido e Trêmulo
Quando os cães uivam
entre as sombras e a tormenta
tangidos pelo instinto faminto
a farejar o cio...
Quando o vento se derrama
nas ramagens
com a fúria dos tufões
e rangem portas e janelas
e o silêncio se estilhaça
num mosaico de acordes;
quando os relâmpagos
se projetam nos espelhos
e as casas estremecem
sob a clave dos trovões;
quando as nuvens se dissolvem
conspirando rios nas ruas
e a noite se aglomera
na cegueira das vidraças;
quando a rosa se desnuda
em vertigem e vendaval
e os raios apunhalam
o sossego dos amantes:
eu me guardo, aflito, em ti
úmido de flor, trêmulo de céu...