O ACIDENTE CARNAL

Quem vê tua meiguice, jamais supõe a qualidade de tua fúria;

Essa loucura enclausurada por gaiolas de porcelanas;

A donzela que nada reclama, é fera que a prudência não segura;

Ponderada criatura, entre quatro paredes doidivanas!

Miss dos trajes elegantes, a imagem da requintada educação;

Quem te pediu a mão, ganhou a divindade das volúpias;

Jóia das fadas astutas, sedutora pedra lançada por escondida mão;

Tu és a própria perdição, que se traja de irresistíveis doçuras!

O mundo vê teus supostos medos, mas eu vejo teus segredos;

Ao beijar-me os dedos, teus lábios escravizam meu animal;

Na tua cama sou irracional, de quem te ama sou os pesadelos;

Certos e errados somos os mesmos: vítimas desse acidente carnal!

Somos amante-caçador e presa-atriz;

Tu és a dama escrita a giz, que eu reescrevo em nosso suor;

Dentre as fêmeas a maior, eis a razão porque te quis;

Se ignoro viver por um triz, é porque tu és o laço de meu nó!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 15/08/2008
Código do texto: T1129365
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