O ACIDENTE CARNAL
Quem vê tua meiguice, jamais supõe a qualidade de tua fúria;
Essa loucura enclausurada por gaiolas de porcelanas;
A donzela que nada reclama, é fera que a prudência não segura;
Ponderada criatura, entre quatro paredes doidivanas!
Miss dos trajes elegantes, a imagem da requintada educação;
Quem te pediu a mão, ganhou a divindade das volúpias;
Jóia das fadas astutas, sedutora pedra lançada por escondida mão;
Tu és a própria perdição, que se traja de irresistíveis doçuras!
O mundo vê teus supostos medos, mas eu vejo teus segredos;
Ao beijar-me os dedos, teus lábios escravizam meu animal;
Na tua cama sou irracional, de quem te ama sou os pesadelos;
Certos e errados somos os mesmos: vítimas desse acidente carnal!
Somos amante-caçador e presa-atriz;
Tu és a dama escrita a giz, que eu reescrevo em nosso suor;
Dentre as fêmeas a maior, eis a razão porque te quis;
Se ignoro viver por um triz, é porque tu és o laço de meu nó!