Abandono

 

Permitirei que em  mim desfaleça esta vontade

De amar porque nada poderei te oferecer além

Da  mágoa de me veres para sempre cansado

Tua presença, porém, é algo como luz e vida.

 

E percebo que em minha face há a tua face

E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto

E no meu brado existe o teu grito

Porque em mim tudo está acabado não te desejo.

Desejo apenas que germinas neste meu ser

Como a crença no coração dos desalentados.

 

Para que um pingo de rocio eu possa levar

Neste funesto chão que no meu corpo ficou

Como uma marca dos tempos idos. Permitirei...

Partirás tu e oferecerás teu rosto a outro rosto.

 

Os teus dedos prenderão outros dedos e brotarás

Para outro alvorecer, porém, jamais irás saber

Quem de fato de abrigou, porque da noite fui

Eu o grande âmago, porque no rosto da noite

Encostei meu rosto e tua voz afetuosa escutei.

 

Porque da névoa minhas mãos enlaçaram as mãos

Erguidas para o alto e até este corpo o misterioso

Sentimento eu trouxe da tua delirante renúncia

E continuarei só como os barcos nos  silentes portos.

 

Mas do que qualquer outro serei teu dono

Porque estarei livre à partida e todas as lágrimas

Do oceano, da brisa, dos pássaros, do céu, dos fadários

Serão a tua voz em mim, a tua voz ausente,

A tua voz de serenidade sem fim...

 

R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 14/08/2008
Reeditado em 14/08/2008
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