Afeto discreto
Tenho um afeto ocioso,
não dá alardes, é silencioso,
não exagera, é preguiçoso,
tanto se acanha, é cerimonioso...
É discreto e taciturno,
sempre zeloso, não importuno,
põe-se a enriquecer com seus infortúnios,
sofre na surdina, quão é soturno.
É tão incomum, pouco interpretável,
tem trejeito particular e irrevogável
e tentando explicá-lo com boa fala
a eloqüência diante dele se cala.
Não se enquadra em pintura de quadros,
nem em arestas de porta-retratos,
ou em vídeos de clipes gravados,
ou mesmo em sons bem elaborados.
Manifesta-se pouco, que não o alcança a vista,
há de se ver no peito, ou na essência do atos,
só sensibilidade terrível, acaso exista,
o perceberia sendo, então, revelado.