Concessão poética
Erato concedeu-me belos versos de
amor que escorrem de minhas
veias como se sangue fossem.
Quis, outrora, perder-me em
tuas veias, deleitar-me em tua
cama, degustar a maçã que me
oferecias como se Banquete fosse.
Adormeci os versos de Erato
no fundo de uma gaveta e
resgatei de minha inspiração
delícias poéticas com sabor
de Safo, outra poetisa,
e algumas nuances eróticas
permeadas por Sade.
Despi a fantasia de romântica
Colombina e trajei-me de
Bacante para te servir.
O Carnaval – a festa da carne – passou
e tu, ao contrário do que
prometeste, não vieste.
Nesse momento, em que o sangue
é transformado em verso,
tento resgatar das cinzas,
também do Carnaval, o resto que
de mim ainda resta para
não mais pensar em ti.
Concedo-me por um instante
que seja a desilusão de agora
na dor que sinto confranger-me
o peito e despeço-me poeticamente
da fantasia perdida entre os
últimos resquícios de
confetes e serpentinas.