CANTIGA PARA UM POETA
CANTIGA PARA UM POETA
Carmo Vasconcelos
Meu plantador de versos rama
Raízes velhas em mim derrama
Deixa que aspire os galhos verdes
Que cioso guardas
No canteiro das madrugadas
Vem e me chama!
Pela manhã deixa que eu seja
Beijo de orvalho e terra fêmea…
Mas se eu não for o teu ensejo
Ponho mordaça no meu desejo
Fico calada, durmo num canto
Choro por ti do passado teu longo pranto
Faço-me estátua, contemplação
Silêncio e sombra
E ouvirei muda tuas revoltas de desencanto
Se me quiseres
Musa que borda para ti a inspiração
Feita cigana troco-te a sina
Da pele mulher te dou o mel
E feiticeira de maga tinta
Pinto-te trovas sobre o papel
Se me quiseres
Vem e me ensina
Quero ser nómada no teu deserto
Corpo de areia a fustigar-te com o meu ardor
Oásis certo a céu aberto
Refrigério, fonte de amor
Abre um pretexto no teu contexto
E arma a tenda com destemor
Faço-te a cama lisa e rasteira
De palha a esteira
Cheirando a flor
Serei o teu lençol de lua
Suave calma do anoitecer
E de mansinho, brisa ligeira
Fecho-te os olhos meu bem-querer
Desnudo o corpo e em oferenda
De alma lavada faço-me tua!
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Ouça a gravação na voz da autora em: http://www.antoniomiranda.com.br/Iberoamerica/portugal/carmo_vasconcelo.html
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