Poema na varanda
Na madrugada silenciosa, apenas
o movimento incessante do
relógio causa sobressaltos
à alma dorida.
Finjo que o tempo passa
longe de mim, enquanto
o pensamento divide em
horas meu desejo por você.
Talvez seja meramente o
reflexo de uma paixão
fugaz que o gosto do martini
deixou momentaneamente na boca.
Ainda consigo avaliar
os riscos, enquanto as
lágrimas percorrem
infinitamente o rosto.
Há resquícios de cinzas
no corpo outrora quente,
adormecido entre as brumas
do desejo incontido, na
proporção do sentimento
que, ferido, chora.
O poema na varanda transgride
o espaço da memória
e mancha no vermelho
da agonia tudo o
que dolorosamente sinto agora.