A cor roxa sobre a pele
A Bacante que há em mim deseja
a pele marcada por tuas mãos,
a boca tocada por teus lábios,
o corpo profanado pelo teu.
Há segredos no coração dela,
alguns esqueletos escondidos
no fundo do armário,
algumas angústias perambulando
pela casa vazia.
Mas o desejo persiste...
e ela silencia a pena.
O desejo insiste como apelo
irresistível da carne que
pretende ser tua, do beijo
que se quer teu, da face
que se faz vermelha e dolorida
pela vontade do toque
de tua mão.
Há um mosaico de cores
na parede branca que,
imaginariamente, reveste o espaço
também branco da alma.
(Justamente no momento em
que o jornal noticia sobre
o filme “Ensaio sobre a cegueira”,
adaptação do livro de Saramago,
ela reflete sobre cores).
A Bacante enquadra-se, por um
instante, na “treva branca” descrita
no romance, buscando tracejar
diante dos olhos a linha tênue
do erotismo refinado que
permeia a noite insone e
aquece o corpo desnudado.
Resumo do que a Bacante deseja:
A cor roxa sobre a pele.