Enquanto o dia dorme
Enquanto o dia dorme, o cheiro do
cigarro que exala do teu corpo
mistura-se ao aroma do sexo espalhado
pelo lençol, vertido nas águas de teu
suor, presentes no tapete sobre
o qual apoiaste os pés.
De repente o tempo tornou-se estanque
em nossos corpos, enquanto nossas
bocas, famintas de longa data,
queriam insanas matar a sede
do desejo tantas vezes alimentado,
nutrido em palavras obscenas.
Do encontro não houve antecedência
de vinte e quatro horas: exigência
da Bacante.
Do telefonema houve um NÃO,
convertido em instantes no SIM
que tanto querias ouvir.
Disseste: “Saí do Castelo com
gosto de QUERO MAIS na boca”.
Tua boca: uma delícia...
Teu corpo: uma tentação.
De tuas mãos, carícias ao gosto do Marquês.
Em meu corpo, alguns resquícios doridos,
apesar da notada ausência colorida
do lilás por sobre a pele.
E, como disse Drummond: “O que
passou não é passado morto.
Para sempre e um dia o pênis recolhe
a piedade osculante de (minha) boca”.
Rita Venâncio