Enquanto o dia dorme

Enquanto o dia dorme, o cheiro do

cigarro que exala do teu corpo

mistura-se ao aroma do sexo espalhado

pelo lençol, vertido nas águas de teu

suor, presentes no tapete sobre

o qual apoiaste os pés.

De repente o tempo tornou-se estanque

em nossos corpos, enquanto nossas

bocas, famintas de longa data,

queriam insanas matar a sede

do desejo tantas vezes alimentado,

nutrido em palavras obscenas.

Do encontro não houve antecedência

de vinte e quatro horas: exigência

da Bacante.

Do telefonema houve um NÃO,

convertido em instantes no SIM

que tanto querias ouvir.

Disseste: “Saí do Castelo com

gosto de QUERO MAIS na boca”.

Tua boca: uma delícia...

Teu corpo: uma tentação.

De tuas mãos, carícias ao gosto do Marquês.

Em meu corpo, alguns resquícios doridos,

apesar da notada ausência colorida

do lilás por sobre a pele.

E, como disse Drummond: “O que

passou não é passado morto.

Para sempre e um dia o pênis recolhe

a piedade osculante de (minha) boca”.

Rita Venâncio

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 03/08/2008
Reeditado em 03/08/2008
Código do texto: T1111185
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