CROQUI DE AMOR
Bela era aquela cena.
Teu corpo nu deitado na cama num sono profundo.
Você, ali, tão perfeitamente aconchegado nos nossos lençóis.
A minha mão tão perto dos teus cabelos finos,
Mas evitando o toque para te deixar dormir.
Belo era o nosso quadro de amor.
Um jeito particular de entrelaçar os dedos
E cambalear nas noites bêbadas em busca da nossa casa.
Lá dentro, carinhos, afagos e sonhos partilhados.
Tão lindo era este cenário.
Qualquer coisa de irreal
De faz-de-conta.
E assim o era.
A mão do carinho virou bofetada.
Os braços de aninhar, força bruta para lançar-me contra a parede.
E a boca, onde se guardavam beijos, tornou-se lança afiada em direção ao meu peito.
Dei-te tudo.
De mim, quase toda a essência.
Hoje, pensando na cena, no quadro, no cenário,
Percebo o vazio que tive por companhia...
Terá valido algo?
Não.
Nem mesmo os poemas tecidos em meio a isto tudo.
Porque éramos tinta esparramada numa tela que nunca chegou a ser pendurada na parede.
Que ficou largada no subsolo,
Alimentando o mofo deste amor por mim rascunhado.
Belo era este amor no quadro do faz-de-conta.
Tão belo que quase tomou corpo nas noites em que dormias sossegado.
Mas, cansada de desenhar no teto daquele quarto, me mantive acordada.
E assim estarei agora e sempre.
Amém.