Sob um abismo de silêncio
Os minutos... horas.
As horas... dias.
Os dias... uma semana.
Sob um abismo de silêncio a
angústia edifica em mim um
muro de alto relevo e solidão.
Sade já não visita meus sonhos,
e Morfeu recusa-me em seus braços.
Já não conto o tempo nos
ponteiros do relógio, pois ele
emerge de dentro de mim, em
uma agonia perene e dorida.
Onde estás?
A Bacante desconstrói o pensamento
na teia do abismo que se faz
silêncio onde antes tuas
palavras obscenas tingiam de
desejo um corpo e suas vontades.
Pensa talvez ser novo castigo
impingido pelo Mestre, mas tenta
em vão entender o silêncio,
compreender a ausência, aceitar a
recusa implícita do esquecimento.
Busca conforto na Poetisa que
também sente o peso da falta,
reflete e comunga na mesma
angústia e sofrimento.
O Mestre partiu, levando consigo
o desejo e deixando com
a Bacante o mistério.
Ela pensa na “partação”, não
encontrando no dicionário seu
significado, e no fundo entende
a palavra como um fim não dito,
simplesmente consumado.
Sob um abismo de silêncio a
Bacante recorre aos versos da
Poetisa e tenta, inutilmente, fazer
o Mestre ouvir o grito
que morre preso na garganta.
Rita Venâncio.