Sob um abismo de silêncio

Os minutos... horas.

As horas... dias.

Os dias... uma semana.

Sob um abismo de silêncio a

angústia edifica em mim um

muro de alto relevo e solidão.

Sade já não visita meus sonhos,

e Morfeu recusa-me em seus braços.

Já não conto o tempo nos

ponteiros do relógio, pois ele

emerge de dentro de mim, em

uma agonia perene e dorida.

Onde estás?

A Bacante desconstrói o pensamento

na teia do abismo que se faz

silêncio onde antes tuas

palavras obscenas tingiam de

desejo um corpo e suas vontades.

Pensa talvez ser novo castigo

impingido pelo Mestre, mas tenta

em vão entender o silêncio,

compreender a ausência, aceitar a

recusa implícita do esquecimento.

Busca conforto na Poetisa que

também sente o peso da falta,

reflete e comunga na mesma

angústia e sofrimento.

O Mestre partiu, levando consigo

o desejo e deixando com

a Bacante o mistério.

Ela pensa na “partação”, não

encontrando no dicionário seu

significado, e no fundo entende

a palavra como um fim não dito,

simplesmente consumado.

Sob um abismo de silêncio a

Bacante recorre aos versos da

Poetisa e tenta, inutilmente, fazer

o Mestre ouvir o grito

que morre preso na garganta.

Rita Venâncio.

Rita Venâncio
Enviado por Rita Venâncio em 01/08/2008
Reeditado em 03/08/2008
Código do texto: T1108464
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