O EMBAIXADOR DAS LÁGRIMAS
A crise me elegeu seu arauto e me batizou com açoites;
Encheu meus dias de noites, anarquizou todas as minhas leis;
Sem piedade me desfez, tornou-me súdito nas suas cortes;
Dilacerou com suas foices todas as flores da minha lucidez!
Chegou trazida pelas mãos que um dia me acariciaram;
Onde meus pesadelos sonharam, onde invernou o meu verão;
Me implodiu nas minas da solidão, quando meus sonhos acordaram;
E quando meus olhos choraram, de afogamento padeceu meu coração!
Por isso eu sou a voz de todo pranto, por isso ele me escolheu;
Ninguém melhor que eu, pra traduzir as surras sofridas pela alma;
Também as chuvas da doença que não sara, e o sol coberto em breu;
E até da vida que morreu, sob os gritos de um soluço que não fala!
Lá fora o mundo almeja reagir, a cada campo a florir;
É o oposto daqui, onde o sal da aflição é o que se tem para dialogar;
Lá fora existe o céu e o mar, e é possível conversar com o sorrir;
Mas aqui só essa triste embaixada, onde o sofrer achou por bem se representar!!