O EMBAIXADOR DAS LÁGRIMAS

A crise me elegeu seu arauto e me batizou com açoites;

Encheu meus dias de noites, anarquizou todas as minhas leis;

Sem piedade me desfez, tornou-me súdito nas suas cortes;

Dilacerou com suas foices todas as flores da minha lucidez!

Chegou trazida pelas mãos que um dia me acariciaram;

Onde meus pesadelos sonharam, onde invernou o meu verão;

Me implodiu nas minas da solidão, quando meus sonhos acordaram;

E quando meus olhos choraram, de afogamento padeceu meu coração!

Por isso eu sou a voz de todo pranto, por isso ele me escolheu;

Ninguém melhor que eu, pra traduzir as surras sofridas pela alma;

Também as chuvas da doença que não sara, e o sol coberto em breu;

E até da vida que morreu, sob os gritos de um soluço que não fala!

Lá fora o mundo almeja reagir, a cada campo a florir;

É o oposto daqui, onde o sal da aflição é o que se tem para dialogar;

Lá fora existe o céu e o mar, e é possível conversar com o sorrir;

Mas aqui só essa triste embaixada, onde o sofrer achou por bem se representar!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 30/07/2008
Código do texto: T1104783
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