“O céu é um cinema quando finda o dia”
“O céu é um cinema quando
finda o dia”, canta Zé Geraldo.
Digo que o céu é um poema
quando visto de teus olhos
verdes, enquanto a alma da
Poetisa flutua em mim
um doce e ameno segredo.
No canto que o verso
canta reflete-se a palavra
que cala no peito.
Não devo anunciá-la...
Não devo permiti-la...
Mas a paixão costuma cegar-me
os olhos, assim como os
de Édipo foram
silenciados na escuridão do dia.
E sei, como canta Chico,
“que os poetas como os
cegos podem ver na escuridão”.
A poetisa vê na penumbra
da noite que veste o dia
o lamento do que talvez
uma única vez vivenciará.
Quiçá o tempo, algoz dos dias
intensos que passo em ti,
usará a guilhotina para cessar
a plenitude do momento, ou a
velha ampulheta que encerra
em si o grão de areia, o
minuto que refaz a hora,
devorando-a vorazmente.
O que devora a alma da
Poetisa é um segredo,
uma certeza que tece com
fios incertos qualquer palavra
tua que não seja
somente um adeus.
Rita Venâncio.