ÚLTIMO POEMA ESCURO: O que não cabe no peito
Aos que amam
Poderia contar-te a história da minha vida
poderia falar-te das noites sem lua
poderia compor versos compulsivamente
sobre os teus olhos verdes, ou sobre
os caracóis do teu cabelo quando longo
cai nos teus ombros, poderia ir de viagem
e escrever para ti desde um celular
Poderia explicar-te todas as maneiras
de tocar uma música, quão importantes
para a nossa história foram os alaúdes
e os pianofortes, as flautas, os violinos
e todas as formas da melodia sem palavras
com palavras e com obras que são amores
Poderia lembrar os tempos das fontes
do cervo, da beira do rio, de cisnes e mouchos
de castelos ergueitos, naus em restauro
Cila e Caribdis, mui fremosas espadas
Ents rumorosos, ilhas de fantasia ou dos piratas
maravilhosas lâmpadas sempre acesas
longos poemas de meigos sonhos
senhores, donzelas, cavaleiras e dragões
Poderia contar-te a história da minha vida
mas não vou fazer
vou-te dizer só
o que não cabe no peito
nem pode caber