O amor respira

Extasiada com o crepúsculo outonal

Estendo o que aflora por meus poros

Florescentes

Vencidos os mares, ultrapassados passos

Passageira em plena viagem

Retorno da estiagem

Do desamparo em escassas águas

Até mesmo como lágrimas

Da intocabilidade do sentir

Passadas as voltas

Vejo fluir da serra

Os seios, os vermelhos das cerejas

E em sagrada reverência meus anseios

Esse crepúsculo que retira a luz do dia

E que me entrega

Transformando-me em retirante

Das secas trevas

E já é inverno

O outono são apenas meus anseios

Carne dos frutos

E água pura da vertente

É puro anseio que no olhar esse crepúsculo

Faz transpor esse momento

É chama, é paz e o movimento

A dama se compraz compenetrada

Extasiada em labaredas

Crepúsculo penetrando em cada músculo lentamente

Luz expandida, deixada espera em abandono

Os sóis agora são dois, sós, são dois somente

O finalmente que é princípio

Retorno ao horizonte desenhado

Na contra luz os corpos brilham

Tempo parado. Não é inverno, não é outono

É apenas o silêncio

Terno silêncio compartilhado

Corpos calados, linguagem branda

O amor respira.