CÂNTICO CEGO
Sobre as lanças,
os restos póstumos da esperança.
Foi secular a noite,
agora claustro abissal.
Dormem as vertigens nos espelhos.
As lânguidas palavras de amor,
a luz nos olhos,
ganharam o rosto dos desmembrados
da paz, dos sorrisos, de tudo o que fazia
da vida um paraíso.
É noite escura nos espaços.
É frio na garganta que se consome,
em fantasias insones,
que não acredita mais no cântico
das manhãs.
Semeaste rosas e abismos na ponta dos dedos.
E se morre o amor, tarde ou cedo,
- o mataste.
Não importa. Chora-se em segredo
essa esperança que, um dia, foi irmã.
(Direitos autorais reservados).