OBRA - PRIMA.
OBRA – PRIMA.
(Poet Ha, Abilio Machado. 01.98)
Ah que coração!
Que vive nesta de sem razão
No torpor adocicado da ilusão
Omitindo seus desejos
Singelos os lampejos despedaçados...
Caminha sozinho na ladeira
Sem pátria e sem bandeira!
Cavalga nos pastos já obscuros
Passado revivido, levado nos passos...
Calado leva ao peito
Uma porta em chama:
Incendiada saudade.
Caminha sozinho na ladeira
Sem sua amada e sem eira!
Quem viveu não esquece
A dor que se achega sem jeito
Figura ao escuro
Manhã quimera de setembro
Levando a mão a descansar
Na face, no colo assombro.
Caminha só na beira
Sem canto e rola na ladeira!
Não chora quem não amou de verdade
Não há quem não chorou por amor
Não há quem não se aterá com suas lágrimas
Nas madrugadas e ao dobrar a esquina
E ver seu amor antigo surgir
Tão linda como uma bela arte, uma obra-prima!