NÃO É AMOR
Não é amor o que me atormenta
e como poderia, se ando nua
e gélida, abrigando o medo
para me conter, para não dizer:
vem, aquece minha cama
que sem ti, rasgo o corpo
sem enlanguecer?
Não, amor não pode ser
esta noite que me habita,
cegueira da casa, da xícara
entre minhas mãos percebida
depois que queima.
Se fosse amor, tudo que queima e tarda,
não me atravessaria o inverno,
constante como um amante
que no meu sangue se aquece
querendo não ser.
Frio, de tanto frio, não é o amor.
Disseram que é um fogo, uma crepitante rosa
então que desenho é este,
nos meus olhos profundamente rabiscado,
um círculo azul de neve,
um círculo ártico,
a breve sombra de alguém
que me cega e arde?