Olhos Lavados
O amor invadiu minha vida, matou a solidão,
Encheu-me de torpor, embriagou-me com o cálice da perdição.
Acordei na alcova fria que me deixaste,
Das paredes escuras precipitavam-se anjos sem asas,
Riam, choravam,
Do meu tormento zombavam.
O amor velado sem velas,
Levado sem prece, com pressa,
Nos olhos lavados.
Ébria, sigo adiante na estrada da esperança,
Carrego em meus lábios o teu gosto, no peito um desgosto,
De ter amado mais que podia,
De ter calado antes de amanhecer o dia.
Bebi o ópio da papoula que me deste,
Da flor nada restou, estamos cá as duas,
Na intempérie dum tempo agreste.
Nos meus olhos repousam sofridas nossas lembranças,
Meu olhar distante revela que cá não estou,
Mergulhei no abismo de palavras mortas,
As ditas e não ditas,
Ah! Malditas.
Peço:
- Leve para longe a lua, o sol, o mar, as estrelas, os vales,
São eles testemunhos do crime, cenário do amor vivido.
Como hei de esquecer a peça no palco do teatro?
Com o roteiro preso em minhas mãos? Com o retrato dum tempo,Que matou meu coração?
Lágrimas deslizam sobre minha face,
Tem seu curso findo pela saliência dos meus lábios,
Sinto o gosto de dor da lágrima,
Da lástima,
Estranho é provar a própria dor, a do amor.
Sentir o gosto do desgosto,
Ainda assim sentir falta do que provou, Do que provocou este tal de amor...
( Cassiane Schmidt)