APELO
Olhem só pra mim: tudo que sou não passa de nada;
Sou adaga sem lâmina, nublado céu que não chove;
Eu sou aquele vendo que nada remove, sou a unidade alijada;
Degrau sem escada, eu sou o tempo que não corre!
Quero o testemunho das estrelas, para que vejam meu sol noturno;
Sou esse sábio burro, sou essa casa desalicerçada;
Eu sou a junção dilacerada, a boca surda e o ouvido mudo;
Eu sou a crença no absurdo, sou o caminho sem estrada!
Eu sou o realismo metafórico, o mórbido eufórico;
Meu mito é fato histórico, meu silêncio é grito;
Meu anarquismo é rito, meu raquitismo é calórico;
Me dou quando me boicoto, me apago quando sou lido!
Vem me olhar te peço agora, e me contempla nessa invisibilidade;
Porque sou paz que diglade, sou saúde repleta de dor;
Me olha por favor e vem me castigar com tua bondade;
Me liberta e me invade, e antes que me seja tarde: dá-me o teu amor!!