Êxtases de sombras - Caio Lucas

Deitado nos braços da noite, o Soltas, suas mãos correm pelo meu corpo,

alguns desejos distantes voltam,

sobre altos e baixos sua boca se arrasta,

meus pêlos são desbravados como florestas,

a língua deixa faixas de saliva, fazendo uma estrada.

No quarto escuro corpos se reconhecem,

uma sombra projeta sobre a outra,

são espelhos escuros de uma paixão,

lá fora, o silêncio de uma noite qualquer;

dentro, corpos excitados, esfomeados de tesão.

Nenhuma palavra é ouvida, apenas gemidos,

amantes conhecem seus jeitos, seus ritmos,

as posições dos corpos e sombras são inconstantes,

o vertical e o horizontal da paixão é incontida,

portas abrem e fecham, exalam cheiros, provocam.

No relógio as horas param, os minutos cessam,

sem asas voamos, subimos aos céus.

Ao longe, cores são deslumbradas, faíscas e fogos,

na retina, o reflexo do gozo puro e simples,

todas as luzes acedem e queimam dentro do corpo.

Marcas ficaram dentro e fora dos sexos,

corpos se lambuzaram com líquidos,

agora libertos da paixão, desejos viraram êxtases,

sombras, ainda ofegantes, permanecem inertes,

um raio de sol invade a janela, acabou a noite.

Quero manhãs simples, acordar junto ao beijo,

sentir sobre meu braço seu peso adormecido,

não poder olhar seus olhos só por estarem fechados,

rir e chorar, viver e morrer, nas poucas ausências,

preciso de vida na vida, dos seus dias nos meus.

Caio Lucas
Enviado por Caio Lucas em 06/02/2006
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