Êxtases de sombras - Caio Lucas
Deitado nos braços da noite, o Soltas, suas mãos correm pelo meu corpo,
alguns desejos distantes voltam,
sobre altos e baixos sua boca se arrasta,
meus pêlos são desbravados como florestas,
a língua deixa faixas de saliva, fazendo uma estrada.
No quarto escuro corpos se reconhecem,
uma sombra projeta sobre a outra,
são espelhos escuros de uma paixão,
lá fora, o silêncio de uma noite qualquer;
dentro, corpos excitados, esfomeados de tesão.
Nenhuma palavra é ouvida, apenas gemidos,
amantes conhecem seus jeitos, seus ritmos,
as posições dos corpos e sombras são inconstantes,
o vertical e o horizontal da paixão é incontida,
portas abrem e fecham, exalam cheiros, provocam.
No relógio as horas param, os minutos cessam,
sem asas voamos, subimos aos céus.
Ao longe, cores são deslumbradas, faíscas e fogos,
na retina, o reflexo do gozo puro e simples,
todas as luzes acedem e queimam dentro do corpo.
Marcas ficaram dentro e fora dos sexos,
corpos se lambuzaram com líquidos,
agora libertos da paixão, desejos viraram êxtases,
sombras, ainda ofegantes, permanecem inertes,
um raio de sol invade a janela, acabou a noite.
Quero manhãs simples, acordar junto ao beijo,
sentir sobre meu braço seu peso adormecido,
não poder olhar seus olhos só por estarem fechados,
rir e chorar, viver e morrer, nas poucas ausências,
preciso de vida na vida, dos seus dias nos meus.