RAZÃO DO MEU AMOR
Revolvendo as lembranças do passado,
Encontro alguns poucos, raros, amores,
Nenhum deles que fosse tão durável,
Ou tivesse o toque sutil, incontrolável,
De uma paixão sem fim, sem dissabores,
Nada tão forte, a ter-me arrebatado,
Enfim...
Fugazes amores, aqueles da juventude,
Alguns que ficaram mesmo esquecidos,
Outros, em que u'a lembrança vaga,
Que o tempo ofusca, mas não apaga,
É tudo que ficou, entre os perdidos
Pedaços de uma época que, amiúde,
Se esfuma.
E então, parece não haver nenhuma
Razão a justificar que se evoque
Esse passado assim, sem interesse,
A não ser uma somente, que vê-se
Ser, na vida, este mais puro toque
Da paixão maior, suave qual a bruma
Que encobre,
Com essa sua força tão altiva, nobre,
Todo amor que possa dantes ter vivido,
Porquanto a ela não há de comparar-se,
Qualquer outra, nem existe o que disfarce
Este poder do amor que vivo, comovido,
Contigo, musa minha, ainda que me sobre,
Assim,
Por vezes, a dor terrível da tua ausência,
A corroer, sem trégua, o pobre coração
Deste poeta que te ama, sem medida,
Por seres a razão da minha própria vida...
E nada pode ser superior à emoção
Que sinto, por força de tua permanência
Junto a mim.