não insistas. morri!
estou morta
morri antes da hora em que, por vaidade,
veleidade
ou talvez, quem sabe, instintiva verdade,
sem pudor t’abeiraste de mim
e me tomaste abrigo
e me abocanhaste a alma
e me tornaste escrava do meu próprio destino
e o meu olhar menino
seguiu firme no teu, na humildade dum peregrino …
e me desapossaste em medo de ti
e m’usaste como pedra na funda de tua fisga…
e me retalhaste a pele … assim!
não insistas. morri!
as pedras têm coração, sabias?
um coração radicular onde moram estirpes laicas
fragmentos de dunas em ventanias e velas brandas de sal,
potássios
sódios, isótopos de vidros, cristais prismóides de luz
e Sol…
[“No princípio era o Sol …”(1)]
caleidoscópios d’átomos, resquícios de plantas e/ou animais.
igualizo-me, anímica, a cada um.
a minha alma já não chora, não se eleva, não s’agita…
que
na rota enganosa de seguir teus passos
antes de mim morreu a alvorada de todos os fátuos-pássaros.
__
1) Poema da autora, título do seu novo livro.