não insistas. morri!

estou morta

morri antes da hora em que, por vaidade,

veleidade

ou talvez, quem sabe, instintiva verdade,

sem pudor t’abeiraste de mim

e me tomaste abrigo

e me abocanhaste a alma

e me tornaste escrava do meu próprio destino

e o meu olhar menino

seguiu firme no teu, na humildade dum peregrino …

e me desapossaste em medo de ti

e m’usaste como pedra na funda de tua fisga…

e me retalhaste a pele … assim!

não insistas. morri!

as pedras têm coração, sabias?

um coração radicular onde moram estirpes laicas

fragmentos de dunas em ventanias e velas brandas de sal,

potássios

sódios, isótopos de vidros, cristais prismóides de luz

e Sol…

[“No princípio era o Sol …”(1)]

caleidoscópios d’átomos, resquícios de plantas e/ou animais.

igualizo-me, anímica, a cada um.

a minha alma já não chora, não se eleva, não s’agita…

que

na rota enganosa de seguir teus passos

antes de mim morreu a alvorada de todos os fátuos-pássaros.

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1) Poema da autora, título do seu novo livro.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 12/07/2008
Reeditado em 12/07/2008
Código do texto: T1076512
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