Júlia
És o despertar de um sono que reúne a boca ao beijo
O suor que escorre e decorre
Da nuca, nas costas, na face, no peito
E o som que sai da minha boca
Que toca como corda
E cai como pedra
Dentro de você
És o desfrutar do fruto proibido ao desejo
E ao toque dos lábios, ao toque dos dedos
Na harpa sem mácula, dos olhos sem mácula
Que tragam meus músculos
E roem minha pele
E me lançam no abismo
Sem roupa, sem tudo
És um rio caudaloso que se entorna
Por sobre meu colo
Vem lento e turvo
E deságua sem medo, calmo
E tormentoso
Pudica e indecorosa
És bem um busto ou própria deusa
Os seios cobertos,
Mas a espádua nua
Os olhos fixos
E tão expressivos
E ilustres e lustrosos.
És de curvas que incitam
E beleza que insinua
Senhora de um corpo que não é seu
E de uma alma que não é sua
Senhora de um coração que não é seu
És tu, tão segura e insipiente
Tão desatenta e observadora
Que em um olhar simplesmente
Fez-me quedar no tempo de repente
Para me matar
De uma morte desalentadora,
Júlia