FIM DO SILÊNCIO

Há tanta estática

No ar

Há demasiada gente

A gritar

E muita mais

A suspirar

Ouve-se esse som, o som do silêncio

Um pouco por todo o lado

Interstícios do som global

Que envolve

Quem está apaixonado

Sou só eu e tu

Que estamos

E talvez mais uma multidão

O estarmos sós

Não só é um estado físico e mental

Mas também uma condição

Para a construção de um futuro

Que só conhecemos a base

Só construímos os alicerces

O resto deixamos à imprevisibilidade

Dos sentires

Pois é ela o seu cerne

Núcleo sagrado

Da nossa união

Que se comporta como os átomos do ar

Ora estão juntos

Ora não estão

Andando um pouco

Por todo o lado

De forma errática

Talvez demasiado

Ao acaso

Porque a Lei da Incerteza

Sempre foi a única que nos guiou

Eu amo-te

Tu amas-me

Mas foi o destino que nos juntou

Mas também ele

Que nos separou

Nessa cacofonia

De falarmos ao mesmo tempo

E de repetirmos os mesmos sons

Se bem com diferentes verbos

Língua que só

Nós entendemos

Mas cujo entendimento

Me dá

Nesta aventura

Algum alento

Para continuar

A confusão ordenada

Pondo assim fim definitivo ao

Fim do silêncio

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 10/07/2008
Código do texto: T1073331
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