Rascunho...
Pássaros cantam docemente,
Alegrando-me a vida com seu canto:
Parecem cantar: –“Oh! Esperança!...”
“Vem! Aqui terás de novo teu encanto!”
– Dos sonhos se fizeram estações...
Por que teimas no inverno, só, ficar?...
Há flores pelos campos, há planícies
Onde os pássaros s’tão sempre a chilrear.
Transmuda-te: da dor faz a canção!
Tua vida ficou farta com lembranças
Que todas se fizeram delirantes!
Abandona-as! A vida é uma ilusão!...
Invernos frios... e tantos corações
Foram partidos e ficaram sempre errantes
À espera de algo mais, de um “depois...”
Que não surgiu como se esperava antes!
Olha! Sempre há um novo amanhecer...
– Ou tu não queres sofrimento esquecer?...
Vais deixar a vida te levar
Como se fosse eterno anoitecer
De noites sem luar?...
Olha as estrelas, elas surgem sempre irmãs
E na noite, estão a resplender!
Continuas “singular”? Mundo é “plural”!
Ainda existe beleza! O vendaval,
Tem seu encanto e não dura para sempre!
Ainda há vida em ti e no teu ventre...
E sempre surgem, tuas irmãs e a Lua
(As estrelas de luz no anoitecer...)
Mas criam novas cores se aparece
Radioso e belo, o dia a amanhecer! –
A Esperança ouviu os doces cantos...
E Prateado Anjo a veio enternecer...
Com ternura ofereceu-lhe seu encanto
E a Esperança soube, então, vencer!...
Rabisca versos cheios de ternura
Renasce, vive, transmuda-se em calor!
Torna-se jovem ao receber tanta brandura
Que, por fim, seu canto triste irá depor!
Rascunha a vida que foi tão fugidia
E amassa a folha, joga fora seu papel!
Aceita a Paz... E a dor em nenhum dia
Irá cantar... Põe fora seu cordel!
– Meu Anjo de Prata, me acode em minhas noites!
Que sejam suaves, como serão os dias,
Passados ao teu lado, sem açoites
E sem tristezas nem melancolias...
– Tudo o que vivi foi um rascunho:
Agora conheço a versão final!...