Shirley (2ª parte)
Ao descer do ônibus
O clima muda
O céu é outro
A movimentação é diferente.
Sei que andarei por alguns quarteirões
Letreiros, sinais e uma infinidade de carros
Buzinas, faróis e palavrões:
Trânsito.
Nada me tira a concentração
Aliás, vivo descontraído
Leve.
Caminho por uma São Paulo sem dono
Sem nome, nem fachada
Apenas sou mais um, mas não me importo
Conformo-me, conforto-me.
Atravesso a Lapa de Baixo
Até chegar à Vila dos Flaborea
Aperto a campainha branca, a menor
Mas nada escuto
Porém os latidos do Sultão me indicam
Que ela soou…
Elétrica e sorridente
Caminhas passo a passo até o portão
Longa caminhada, que nos parece breve
E ao nosso encontro:
Beijos, abraços e saudade...
Na volta, um longo caminho, longos abraços e beijos
De quem esperou o tempo passar
Para depois passar o tempo
E agora, que o tempo nunca passe
Porém, juntos...
Momentos de cordialidade, gentilezas
Trocas de cumprimentos e sorrisos
Logo a seguir, o jantar
Mãos entre as mãos, fogão ligado, lugar único
Presença entre as séries brancas
Nada mais a me importunar...
Cherry entre os braços
Logo a solto, ela reclama...
E novamente, mais abraços
Apoiados na pia, afagos
Beijos, trocas de olhares, informações expressas
Precisas...
Eis agora o Hino da Escócia
Troca de reclamações
E um apetitoso feijão, pimentão
Lingüiça, salada de alface e tomate.
Novamente, as notícias
Olhares atentos, desvio de olhares
Olhares eróticos e relação nos olhares...
Luz mágica do infinito, gnomos e bruxinhas
Intensa torcida para o sono
Boa noite!
Boa noite!
Boa noite!
Agora, as mãos envolvidas, prazeres incontidos
Contidos pelo respeito
Olhares e beijos, pura sedução
Transa de olhares e corpos...
Chuveiro ligado, toalha estendida
E o chão inundado...
TV no canal certo
Chuveiro ligado, longo tempo de fumaça
Cremes e fio-dental, ritual
Toalha estendida e o chão inundado
Agora seco...
O abajur lilás
Mostra o contorno do teu rosto
Que contorno e acaricio...
Cabelo preso
Gosto e atendimento
Olhares substituídos por longos beijos
Carícias, mais beijos e muito calor
Roupas que voam, frio na atmosfera
Temperatura alta neste pedaço do mundo.
E agora, os corpos nus:
Coloco a mão na tua face
Contorno cada poro
Desejo marcado pelo calor
E chego aos teus seios pequenos e vorazes
Proclamo e declamo nos teus ouvidos...
Serena e impaciente
Volúpia de amor e prazer
Reconhece o meu pedido
A confirmação da sede do querer...
Novamente, minhas mãos incorrem na redundância
Afago todo o teu corpo
Sedento, marcado pela suavidade, sedoso...
Então, te aperto contra o meu peito
Sedento de ti...
Tuas partes incorporam-se às minhas partes
Minhas partes incorporam-se às tuas partes…
Meu peito desliza pelo teu peito
Minha boca beija cada segmento de reta
E mesmo as curvas mais embaixo
Mais acima...
Ora! somos só prazer
Amor…
Minhas veias explodem
O sangue corre mais rápido por elas
A respiração ofegante
Nos leva à condição de êxtase total.
Agora, o teu corpo pede o meu
Mas não apenas carinho, pede encontro total
Aproximação, corpos suados, penetração...
Certeza que este momento é divino, sublime
Tua vulva encontra-se úmida, possuída
Minha, e só minha...
Cada movimento:
Sabedor que sou do meu desejo
Sabedora que és do teu desejo.
A vontade é de gritar
Chamar pelos deuses do amor
Mas no silêncio nos olhamos
E amamos nossos olhares de cansaço.
O que queremos agora?
Apenas continuar
O amanhã. Amanhã...