INVARIAVELMENTE

Temos invariavelmente que pensar,

Pensar até no já pensado:

"A paisagem noiva da serra." (1)

"As árvores desfolham-se em pardais."(2)

Temos que, invariavelmente, sentir;

Quem ensina o abraço

é acreditável, tem cifras de cor,

"Sorriso aos pingos", decôro.(3)

Temos que falar, invariavelmente.

Uma frase não destrói o afeto,

por mais perto que esteja a língua

do ouvido, seu subjeto.

Invariavelmente, temos que dançar

com ancas. Nada se alevanta

sem a arribação do movimento provocado.

"Não existe parto normal" para a decência.

Invariavelmente que amar temos.

Desde o tempo da serpente (teimamos)

o seio e seus afluentes dão leite.

Amar, variavelmente...

1- ( vou achar, prometo)

1.1- (não achei, desprometo)

2- Helena Kolody

3- Cibele Camargo

PARTE DO POEMA

From: "Érica Antunes" <erica-antunes@u...>

Date: Sun Sep 3, 2000 4:04pm

Subject: O poema do Luís Carlos

Lindo, Luís Carlos!!!!!

Acabo de ler o seu poema "Invariavelmente"...

Gosto demais dessa intertextualidade (!!!!!), desse mesclar de idéias, desse apanhar-se de sentimentos ditos por alguém para transformá-los em algo nosso, verdadeiramente nosso...

... aliás, há pouco mandei a crônica do Fernando Sabino em que ele lembra de um verso de Bandeira...

Particularmente, faço muito disso de associar palavras: é um trecho de uma música, um verso de um poema, uma oração de um texto, um gesto de uma pessoa, enfim... e se se pensar bem a fundo, pode-se chegar à conclusão de que apenas fazemos transformar os fatos, torná-los mais nossos... na verdade, eles estão por aí, vagando, só esperando que alguém os tome para si... e isso é lindo!

Adorei o início: "Invariavelmente temos que pensar,/ Pensar até no já pensado"... é essa a idéia mestra, a guia... e caiu tão bem que, logo em seguida, você citou dois versos de dois poetas (quem é o primeiro, hein? eu quero saber, viu? risos!)...

... e essa palavra "invariavelmente" carrega um peso especial. Viramos e mexemos para, no fim, fazer exatamente a mesma coisa... sempre. Assim: pensar, sentir, falar, dançar com as ancas, amar.

Quanto a esse último verbo, divino o seu desfecho, que faço questão de transcrever aqui:

"Invariavelmente que amar temos.

Desde o tempo da serpente (teimamos)

o seio e seus afluentes dão leite.

Amar, variavelmente..."

Isso é lindo!!!!!!!! Todos temos que amar invariavelmente mas, por outro lado, amamos variavelmente!

Luís, meu amigo, bendito você é dentre os poetas! Belíssimo poema, esse desfecho, realmente, é de arrepiar... emocionante!

Parabéns!

E um beijo procê, pai da Shaiana!

Érica Antunes

Moderadora do Letra&Cia - Grupo de E-Mails

Editora da Nave da Palavra - Revista Eletrônica

www.navedapalavra.com.br

Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 05/07/2008
Reeditado em 01/08/2022
Código do texto: T1065438
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