CACO DE VIDRO
O que fazes, homem triste,
Sentado nesta calçada?
Já vai alta a madrugada
E tu nesta solidão,
Não canta, não ri, não chora,
Perdeste a noção das horas
Com este vidro na mão?
Isto é um vidro quebrado,
Pode ferir sua mão,
Jogue este caco no chão
E volte à realidade!
Demonstre mais alegria!
Esta tua companhia
Só traz infelicidade!”
“Te enganaste, companheiro,
Pois este vidro quebrado
Jogado aqui ao meu lado
Fere involuntariamente,
Mas sua ação dolorida
Não destrói a nossa vida
Como outra que a gente sente.
Este vidro fere o corpo
Mas não fere o coração
E nem faz ingratidão
Com intuito de rancor,
E o amor maior do mundo
Deu-me um talho tão profundo,
Só Deus sabe a minha dor!
O amor quando se acaba
Sempre deixa um estilhaço.
O amor que eu tinha era falso,
Tudo fez pra me ferir.
Deixou-me a vida alquebrada,
Por isso estou na calçada,
Toda a noite sem dormir.
Ferraz de Vasconcelos-SP 19.10.90